Quanto tempo nos levaria a percorrer a imensidão que nos habita?
Quantos estão disponíveis para o frente-a-frente com o mais profundo de si?
Atordoados pelas urgências mundanas vamos engavetando o nosso ‘mundinho’ interior, evitando abrir as gavetas, embora o pó vá espreitando do lado de fora. E se ousamos abri-las, a mão percorre-as hesitante, a temer a profundidade.
As nossas inquietações diárias são quase sempre tão pequeninas, tão banais. Somos engolidos pela pretensa imensidão do mundo real, esse mundo material, concreto e burocrático que nos escraviza.
Receosos, desistimos de ser inteiros e vamos erguendo muros em redor da alma, aceitando resignados a superficialidade que nos sufoca e dimunui.
Por isso, de quando em vez, gosto de ir para longe, qualquer local distante, sem referências, sem bengalas, que me obrigue a abrir as gavetas mais escuras.
Cada partida, cada experiencia nova, cada encontro com o desconhecido vai encurtando a distância de nós para nós, porque nos descobrimos outros, exploramos camadas nossas que não sabíamos existir e no fim, verificamos com surpresa que somos os mesmos ainda, mas maiores, mais completos, mais autênticos.
Mas é preciso romper as barreiras do medo e arriscar o salto, soltando mesmo aquela ponta trémula do pé que insiste em rodopiar no solo, imitando poses de bailarina.
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