Lá fora está frio, mas o calor do ar condicionado do shopping center sufoca. Sigo a multidão de passos firmes e olhar inquieto. As mesmas lojas, os mesmos presentes formatados e a sensação de alívio mas não de prazer que dá por encerrada a empreitada. Numa qualquer caixa de pagamento a descoordenação entre a mão que tenta alcançar a carteira e a outra que tenta impor ordem aos sacos, e os olhos atrapalhados em tarefas de vigilância, que hoje não se pode confiar em ninguém. O cartão de crédito, devolvido com antipatia pela funcionária, não compra um sorriso sequer.
E de repente, no meio da azáfama, o cansaço. Uma sensação de porquê e para quê que não se consola com as explicações básicas. A vontade de um abraço, mais do que todos os gestos. Há qualquer coisa no abraço que é imensa e indizível. Esta mania das emoções nos locais mais impróprios. Dou por mim com bocadinhos de ternura a ameaçar pingar dos dedos e um desejo secreto de que estes, húmidos, esqueçam os sacos.
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